Aceita esse lapso, essas rugas, que pelas mãos do tempo sugam tua amorfa seiva, aceita tua nova imagem, a rubra bagagem que trazes, aceita essa falta de pressa, que falta faz na tua vida? aceita esses óculos, esse ócio pungente, essa cândida ternura que um dia fora luxúria pulsante em ósculos, aceita essa artrite, essa gastrite, a tua falta de apetite, aceita esses fios ralos, essa barba disforme, aceita essa falta de um amor flamejante, esse frio pétreo nas extremidades, esse tilindar maquiavélico das folhas secas pela estrada, aceita o pó das eras, tua memória reticente, tua tosse constante, todos os teus questionamentos vagos, tuas lutas vis, aceita tuas lágrimas perdidas, tua postura torta, teus sonhos incompletos, tuas palavras enclausuradas, aceita essa inércia, essa quietude que te persegue, e precede aquela hora em que dia não é mais dia e a noite ainda não é noite, quando o mocho pia e nada mais, nada mais tem valia, aceita tua vida como fora, aceita pois tua morte.
Eduardo. C. Mendonça
2 comentários:
Dú....
Senti até uma tristeza lendo teu texto....em pensar assim tão duramente que tudo está passando, e tão rápido.
Saudades sempre.
Bjo
Entre todos os teus escritos, este é o que eu mais gosto. Este e um outro, que não está publicado. E que não sei se um dia você vai chegar a publicar.
Quem vê, pensa que foi escrito agora, na sua situação atual. Mas ele deve ter uns 5 meses, jea. Não?
Beijo
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