quinta-feira, 29 de maio de 2008

Palavra


O que é a palavra
Senão um grito?

Tentativa de explicar
O inexplicável,
O infinito?

Por que tantos significados
E significantes
Se todos os predicados
Tornam-se insignificantes?

Eduardo Campos Mendonça

quarta-feira, 28 de maio de 2008

É NOITE


De repente fez-se noite
Em meus dias
Mas por quê a surpresa
Se nos encontramos ontem,
Antes da meia-noite?
Eu e ela, a noite...

Foi uma noite fria de verão
Noite fria em meu coração
Foi longa, quão longa aquela noite!
De vigília, de alucinação...

Mas eu esperava pelo dia,
Pelo sol ao amanhecer
Esperava a alegria,
O sol alto, ao meio-dia...

Mas a noite, ah... como é triste a noite
Quando não quer amanhecer
É como a alma de um poeta
Prestes a morrer...

E morreu...
O poeta está morto,
Cego, mudo, trôpego,
Em estado de decomposição...

Mas ele ainda não deixou o mundo
Cava ao longe o seu túmulo
No abismo mais profundo
Entre a sua alma
E o seu coração...


Eduardo Campos Mendonça

AeroMoça


Aeromoça és tu
Aérea fêmea,
Etérea
Avoada menina
Alva, cálida, cristalina

De elevada calma
A volitar livre,
Leve e solta
Acima de carmas e culpas,
E carnes esdrúxulas

Entre côncavos e convexos
Entre sonho e realidade
Razão e emoção
Nessa falta de nexo
De nossa parca humanidade

Sublime ser tu és
Em aurora no firmamento
Com suas elipses reticentes
Circunspectas retas
E arestas celestes

Pássaro nuvem
Que voa pelo vento
E busca, acima de tudo,
Libertar-se de padrões
E almas aprisionantes

Tão sólida e tão líquida
Mas sempre se evapora
E flutua pelo ar
Em atmosfera nebulosa
Ou condensada
Até atingir o ápice
Em elevada temperatura,

Quando, por súbito resfriamento adiabático,
Se precipita novamente
Em terra
Para que o ciclo se renove


Eduardo Campos Mendonça




quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nuvens Negras


Tudo está cinza,
Nebuloso,
Tudo está denso,
Chuvoso

Tudo está negro
Escuro,
Tudo está preto,
Obscuro

E o vento sopra gelado
Sem vida,
Sem alma,
Castigando dedos e lábios

É, o tempo está feio
Pesado,
Plúmbeo,
Esquisito

Nem mesmo o vermelho
Do sangue,
Da guerra,
Surgiu no horizonte

A linda mulher,
Coitada,
Agora está sem dentes,
Sem seios

Do homem honesto
Não sobrou quase nada
Só os restos
Só ossos

A frágil criança inocente
Caiu no abismo
E nunca mais voltará
Ao colo quente

O jovem adolescente
Perdeu a namorada,
Os amigos,
E os parentes

Até o velho cego
Percebeu a escuridão
Chegar
Assim de repente

Seus olhos viram
E ficaram perdidos
Foi a primeira vez
Que ele sentiu medo...

E eu vejo tudo isso
Na palma de minhas mãos
Só não vejo
O chão...


Eduardo Campos Mendonça




terça-feira, 13 de maio de 2008

Linguagens Líquidas na Era da Volatilidade


Se o inconsciente coletivo
É um oceano de possibilidades,
Cada cabeça é um aquário
De pequeno ou grande tamanho,
Com ou sem vida inteligente
Até o dia em que o indivíduo
Quebra a barreira e se liberta
Para que a água siga o caminho do mar
Sendo assim, o pensamento,
- corrente inexplicável -
Flui e escorre tal como vida
Sempre a adquirir formas que se formam,
Se unem e escorrem como chuva
Em forma de linguagem
Pela metáfora da liquidez
Com sua fecundidade, adaptabilidade
E capacidade de transformAção.


Eduardo Campos Mendonça



sexta-feira, 9 de maio de 2008

ESTRADAVIDA


A vida é uma estrada
C o n t í n u a
Curso em sina
Que sempre
C o n t i n u a
Mesmoquandotermina


Eduardo Campos Mendonça

terça-feira, 6 de maio de 2008

Quando você se afasta sou mais pecador


Quando você se afasta
Sou mais pecador
Porque talvez me incline
Ao desejo

Talvez pela busca
Que tanto ensejo

Quando você se afasta
Sou mais pecador
Porque talvez sublime
A dor

Talvez porque o erro
Tenha o seu valor

E você, ero-casta,
Flor pequenina
Grande mulher
Não me afasta

É que meu ser
Serotonina
Tem sede
De alma vasta


Eduardo Campos Mendonça