A poesia é incomunicável
Não é voz dita à passagem
Espreita, espia,
Porque a poesia
Não é nada do que pensas ou dirias
Nem vida a ruminar
Dia após dia
Néctar escarlate
A morder-te sonhos
A unir rios sedentos
Mãos que acariciam
Corpos já ofegantes, dormentes
Desgastados e corroídos
À custa do tempo,
Mas que tempo?
Nem aurora, nem segredo,
Nem medo, nem desejo,
Ou ventre a contrair
E expelir vida e morte
Nem silêncio, nem moinho,
Nem sono, nem música,
Azáfama ou prazer
Nem erro, nem vício
Carne crua que sangra
E goteja cristalina
Tácita, impermeável,
Indelével, à vácuo
Bebericando rumores
Tecendo veredas
E caracóis subterrâneos
Da mente,
Que mente?
Para-peito de vitral
Abismo de cetim
Cartomante episcopal
Perfume de jasmim
Espreita, espia,
Porque a poesia
Não é sopro
Nem escada
Nem o fogo que te alumia
Botão de rosa a revelar-se
Negrume, sombra, desatino,
Buraco negro, epicentro.
Sentimento ou sabedoria
Amálgama embrionária é a poesia
A enfeitiçar homens
E decepar-lhes a razão
Como criança no colo
Oráculo a revelar-te mundos
E dimensões
À revelia de tua vontade,
Tua realidade
Mas que realidade?
É pulso que voa
Como nuvem
E brota como planta
Cai como água
Escorre e se vai
É júbilo, desapego,
Mistério, minério bruto,
Que vem não se sabe de onde
Nem por que, nem por quem
Umbigo invisível
Indivisível da fonte
Que move montanhas
E serpenteia entre lágrimas e gozos
Entre movimento e repouso
Sempre aquém,
Sempre além
Ao entendimento humano
Eduardo Campos Mendonça
Um comentário:
DU a poesia é mistério, é espontaneidade e a intuição é o combustível que move o poeta e faz com ele crie poesias maravilhosas.
“Se a poesia não vier tão naturalmente como as folhas em uma árvore, então é melhor que nem venha”.
“uma pessoa não pode dizer: vou compor poesia. Nem mesmo o maior dos poetas pode dize-lo, pois a mente é, como uma brasa dormente, que alguma influência invisível, como um vento inconstante desperta para um brilho transitório.”
Postar um comentário