Siga em frente o teu caminho
Porém, com calma
E sem pressa
Senão, você tropeça
Mas insista
Persiga tua alma
Abra tua vista
Pois se voa o passarinho
É porque não há nada que o impeça
Eduardo C. Mendonça
A vida é uma eterna dúvida. Não acha? Se não acha, é bem provável que você tenha se perdido. Você tem certeza de algo? De qualquer coisa? Desse ou de outros mundos? Ou, de pelo menos de quem você é? Você vive questionando tudo e a todos? Então você vive duvidando. Afinal, a única certeza é a morte. Ou melhor, as várias mortes em nossas infindas vidas. Duvida?
Siga em frente o teu caminho
Porém, com calma
E sem pressa
Senão, você tropeça
Mas insista
Persiga tua alma
Abra tua vista
Pois se voa o passarinho
É porque não há nada que o impeça
Eduardo C. Mendonça
De desejo, objeto
De anseios, o projeto
Do artista, um protesto
Dessa vida, algum reflexo
Cria de mãe desnaturada
A cumprir o seu destino
- Eis a busca bem-aventurada
ArteFato eu confirmo!
Coisas estranhas acontecem
Aqui, ali, em todo lugar
Coisas perdidas reaparecem
E não há como explicar
Tal como as coisas somem
Coisas novas surgem
E assim como existem coisas certas
Sobrevivem as erradas
Há coisas que nos erguem
E coisas que nos derrubam
O bom é que coisas boas surgem
E as ruins passam
Certas coisas nos levam
Diversas coisas nos trazem
Coisas inexplicáveis nos impedem
E coisas indecifráveis nos falam
Uma infinidade de coisas nos pedem
Um tanto a gente doa
Há coisas que florescem
Com outras coisas se voa
Certas coisas são raras
E muita coisa é frescura
Prefiro as coisas claras
Não às escuras
Dizem que qualquer coisa não é a mesma coisa
E que coisa nenhuma é um jeito de negar
Tem também quem não assume a coisa
E coisa que num dá pra negar
Mas cada coisa tem o seu lugar
E há coisas que não se deve falar
Dá pra entender tanta coisa
Se as coisas estão sempre a mudar?
Até porque tem quem não diz coisa com coisa
E coisa que não diz nada
Mas uma coisa é certa
A gente reclama quando a coisa aperta
Mais cedo ou mais tarde,
A verdade vem à tona
E, com ou sem alarde,
Te leva à lona
Eduardo C. Mendonça
Eu me tornei um homem de pedra
Silencioso,
Impenetrável,
Afeito cátedra
Preso neste bólido interior basáltico
Solidificado,
Eis-me fóssil,
Imperfeito e cético
Um homem de pedra incandescente
Gélido,
Indecifrável,
Rarefeito e descrente
Na quietude etérea
Primorosa
E instável
Da matéria
Afaste-se!
Não se aproxime tanto assim
Sou um homem de pedra
E o magma já não corre mais em mim
Um homem de pedra intrépido
Efusivo,
Eu volátil,
Desfeito e impávido
Imune ao estrume
Talhado de precipícios e cumes inabitáveis
Eu indelével,
Solitário e intransigente
Um homem de pedra altivo e ígneo
Contra os homens- feras
Eu imóvel,
A mirar o transcorrer das eras
Petrificado por Ilíadas desafortunadas
E areníticas batalhas
Sedimentadas em sangue
Sim! Eis aqui um homem de pedra, enfim
Eduardo C. Mendonça