Devagar fui descobrindo
A doçura torta de te amar
Passo a passo, inocente
Como quem acorda, de repente
Devagar fui descobrindo
A inconsciente vontade de te amar
Assim quimera, sem espera
Posto vivo novamente
Devagar fui descobrindo
O sumo gosto de te amar
Tácito, silencioso,
E de tamanho impacto
Devagar fui descobrindo
O seguro estribo de te amar
Sem crivo, nem siso, nem rédea
Eis o preciso verbo amar
Devagar fui descobrindo
Que foi florindo um jeito de te amar
Quem nem rosas, nem devas
Nem prosa ou versos hão de cantar
Devagar fui descobrindo
Uma devoção de monge em te amar
Assim de longe, e de perto
Que nem mesmo ao certo sei rezar
Devagar fui descobrindo
Que já era hora de te amar
No contratempo, assim de momento,
Num minuto, que não deu nem pra pensar
Devagar fui descobrindo
A forma nua de te amar
Do riso ao pranto, falo e canto
Assim, amor exposto ato de amar
E tão amável, sereno e bonito
Repouso em ti, receptáculo
Fui descobrindo, assim, infinito
Nosso indecifrável espetáculo
Eduardo C. Mendonça